Artistas completas, capazes de iluminar a ribalta, capturar a emoção e arrebatar a plateia. Anne-Sophie Mutter, Jacqueline du Pré, Martha Argerich e Maria Callas! Glamour, sofisticação e espetáculo na passagem do Dia Internacional da Mulher.

 

Maria Callas, a deusa temperamental




O que dizer de Maria Callas? Ou melhor, o que ainda não foi dito sobre ela? Essa magnífica soprano inspirou a lendária figura hollywoodiana da cantora bela, brilhante, dramática e temperamental. Tudo nela inspirava a mídia, seus recitais grandiosos, seus romances intensos e escandalosos, as discórdias nos bastidores, a rivalidade com Renata Tebaldi, com direito a e as brigas públicas, através de declarações para jornais, o que lhe rendeu várias vezes a primeira página, assim como seus triunfos operísticos. Poucos sabem que sua estreia lhe exigiu muito improviso, ela preparara o papel de Elvira para a primeira ópera em apenas dois dias, a convite de Serafin, para substituir quem realmente faria aquele papel e como Callas não teve tempo para aprender o libretto completo, apenas a música, tanto que o ponto lhe soprou o texto.

 

 

 

Os anos 50 foram de fato o ponto alto de sua carreira Sua voz começou a apresentar sinais de declínio no final dessa década, e a cantora diminuiu consideravelmente suas participações em montagens de óperas completas, limitando sua carreira a recitais e noites de gala. Em 1964, sendo encorajada pelo cineasta italiano Franco Zefirelli, ela voltou aos palcos em sua maior criação, Tosca, no Convent Garden, em New York. Maria acabou deixando os palcos em 1965, seu abandono deveu-se em grande parte ao desequilíbrio emocional da cantora, que ao conhecer o magnata grego Aristóteles Onassis, dedica-se integralmente ao seu amado, afirmando ter começado ali sua vida de verdade.


Maria Callas canta Mio bambino Caro:




A cantora teve, em 1960, um filho com Onassis, um menino, a quem batizou de Omero Lengrino. Infelizmente, a criança veio ao mundo em um parto prematuro de oito meses, em uma cesariana de emergência na Itália, mas o bebê não resistiu e faleceu no dia seguinte. Seu filho foi enterrado em Milão, onde todo mês ela ia visitar o túmulo. A morte do filho pode ter sido a causa da depressão que a acompanhou até o fim de seus dias. Callas sempre foi conhecida por seu temperamento forte, sendo chamada de tigresa, em uma ocasião, em 1958, ela foi sumariamente demitida do Metropolitan por Rudolf Bing, que desejava que ela alternasse apresentações de La Traviata e Macbeth, óperas de Verdi com exigências vocais muito distintas para a soprano. Quanto a exigência de Bing, Callas celebremente respondeu que sua voz não era um elevador.


 

Na década de 70, com a morte de Aristóteles, de quem já era separada mas ainda apaixonada, Callas começa um período de claustro e, isolada do mundo, passa a viver na Avenue Georges Mandel, em Paris, com a companhia da governanta, Bruna, e do motorista, Ferruccio. Uma possível volta é ensaiada e entusiasmada pelo cineasta Franco Zefirelli, mas Callas não tem mais a segurança do passado. Faltava vontade. Ela tentou realmente outras funções, como professora da Juilliard, diretora artística, mestre de coral, mas nada lhe satisfazia. Não sabia sequer como deslocar um coro. Começa a impor exigências absurdas para que aconteçam as apresentações. As exigências impossíveis eram a sua forma de dizer não. Já "morta" há muito tempo, em 16 de setembro de 1977, Callas falece de fato, pouco antes de completar 54 anos, no seu apartamento em Paris em decorrência de um ataque cardíaco. Suas cinzas foram lançadas no mar egeu, como era de sua vontade.